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setembro 27, 2013

esqueçam o que diz na contracapa, esqueçam o press release da editora: este livro é cruel, é terrível, revirado, ele próprio desumano e o objectivo e desumanizar-nos a nós, leitores.

este livro distancia-nos da normalidade, do aceitável, distancia-nos uns dos outros, elimina - lenta mas inexoravelmente - a nossa sensibilidade e a capacidade fundamental de sentir empatia.

a ler uma frase, chorei por entre um sorriso enquanto o meu estômago se revoltava contra o que o meu cérebro logicamente interpretou.

eu pensava que já nenhum livro me chocaria.
enganei-me redondamente.

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junho 22, 2013

os dedos percorrem a espinha do livro com a lentidão de quem se sabe aprendiz. inspira fundo, inspira fundo. apreende este cheiro, aprende-o também, partículas de pó divisíveis em tristezas e canduras da vida. devagar, os dedos a arrastarem-se como devotos, deixas-te levar pelo couro que não brilha e cujo sabor queres conhecer.
um livro cai da estante junto da janela, da segunda prateleira a contar do topo. estatela-se no chão, prostrado diante da tua fome de conhecimento, queres tu acreditar. mas acredita-me, a tua fome - que não é de conhecimento, sabe-lo bem - não engana nem um livro, engana-te a ti.
a arrogância é própria dos que pretendem conhecer.
o conhecimento pode ser tremendo e libertador. ou ambos.
se te aborreces, desiste. ou não desistas, se o teu carácter não o permite.

s.

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março 28, 2012

É verdade que trabalho numa grande loja onde há um espaço bem grande onde os livros se acotovelam uns aos outros na tentativa inglória de mais depressa seduzirem o incauto cliente do que o livro vizinho. E o stress é muito, os clientes são muitos mas nunca demasiados, as tarefas são muitas: decarregar paletes, atender, distribuir caixas por cada secção, atender, arrumar os excessos, voltar a atender, devolver livros parados há sabe-lá-o-diabo, destacar o que há para destacar e até aquilo que não devia ter saído de uma gaveta.

Sim, é verdade que há pessoas que trabalham em livrarias um pouco por todo o país - ou em sítios onde se vendem livros, que agora já os há em qualquer bomba - que arrumam livros como quem arruma croissants, que lê livros como quem lê marias e lux, porque a realidade, para estas pessoas, é bem mais necessária, impõe-se, acarreta peso e responsabilidade, é socialmente correcta. para estas pessoas, ler nunca equivale a viajar, nunca pode significar uma aprendizagem, nunca será o mesmo que sonhar. ler ficção - seja ela literatura ou bd, escrita na vertical ou na horizontal e em technicolor - pode constituir um escape, é verdade, mas é muito mais que isso: é quase sempre uma possibilidade de auto-descoberta ou até de epifania.

Às vezes penso que será disso que as pessoas que não lêem ou preferem não ler têm medo: de perceber quem são e o seu potencial e de ver a realidade como ela é, mutável pela nossa capacidade de agir com base no que ambicionamos e sonhamos e queremos fazer.
Ora, era eu cachopa e sonhava muito! Lia muito, conversava com os gatos e as galinhas e as personagens dos livros que tanto lia, eram os meus melhores amigos. Quando um professor me dizia para ler um livro da colecção Viagens no Tempo, eu lia vários. Quando uma professora me encorajou, aos 6 anos, a aprender inglês sózinha (na altura, só se tinha aulas de inglês a partir do 5º ano no ensino público), comprei a Essential Grammar in Use de Raymond Murphy da Cambridge e depois das férias do verão, já tinha feito todos os exercícios. A minha determinação e optimismo provinham do encorajamento que a leitura me dava, para além do prazer simples da história a desenhar-se diante dos meus dedos: se ao ler, eu aprendia coisas que me tornavam mais conhecedora do mundo e se revelavam úteis no meu dia-a-dia num bairro social quase ghetto dos anos 80, onde alcoolismo, drogas, abusos e violência eram diários, a solução era continuar a ler, ler muito e ainda mais.

Se, por um lado, cresci na cidade, foi no campo que aprendi mais sobre a delicadeza das relações humanas e a fragilidade do coração.
Lembro-me de um estio deslumbrante, tinha eu uns 8 anos, estava em casa dos meus avós a passar as férias grandes e tanto insisti com o meu avô que ele, finalmente, acedeu a dar-me um dos livros da sua biblioteca para ler. Empurrei lentamente a porta envidraçada, a porta do lado esquerdo a fingir que escondia uma teia de aranha, a luz a entrar pela janela a oeste e a esbarrar nela.
Tirei um livro ao acaso: Eurico, o presbítero. Alexandre Herculano era difícil com aquela idade. A minha mãe ensinara-me a ler aos 4 anos e era uma habilidade de cariz circense, quase, porque não connhecia ninguém que não convidasse moscas com seu espanto ao observar-me a ler em voz alta (algo que ainda hoje me dá gozo), mas Herculano era mesmo difícil. Infelizmente, o meu avô era muito perspicaz e se notasse em mim a mínima hesitação ou o esfriar do meu entusiasmo, certamente teria sido banida da biblioteca por algum tempo. A minha mãe chamava-me teimosa com frequência, e não larguei aquele livro o verão inteiro.

Com certeza que os livros e as livrarias têm futuro: então, os leitores deixaram de existir? Claro que não. A internet é um bicho? Não é nada, eu estou sempre a pesquisar milhares de livros aqui e depois compro-os onde? Na Fnac, no senhor André da Livraria Lácio (aprendi tanto com esse grande livreiro, desde 1994 a formar a livreira Sandra), na Antiga do Carmo onde ia com o meu avô quando ele vinha a Lisboa. Nada substitui essa experiência, quanto a mim, onde se inclui a conversa lúcida com o livreiro ou, quem sabe, com outros leitores.

É essa experiência que eu tento reproduzir há 12 anos, desde que trabalho com público e com livros, e é esse caminho que quero continuar a trilhar, bem-disposta e apaixonada. E um dia, quando tiver a minha livraria - onde o tempo não vai correr como corre numa fnac - também eu vou formar livreiros. Por enquanto, vou dar o meu melhor e estar consciente de que ainda não chega.

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Blogger Tiago Franco disse...

Olá .)

Boas livrarias e bons livros seriam importantes para que a leitura fosse um prazer possível ao longo do vida, pelo menos, na medida em que ajudariam os leitores a evitar todo o lixo que para aí anda.
É que chega a uma altura em que certos estilos de vida são mesmo adversos aos hábitos de leitura, e a experiência de ler como a descreves só será possível lendo um, dois ou três livros por ano, que sejam de tal forma bons que conquistem um lugar nas rotinas que não podem esperar e na "memória de fácil acesso" do leitor. Não é fácil.

3/4/12 20:23  
Blogger Ricardo António Alves disse...

Quando tiveres a tua livraria, quererei ser teu cliente.

12/4/12 11:07  
Blogger cassandra disse...

obrigada aos dois pelos comentários e por ainda visitarem este blog (andamos os dois à deriva, parece-me às vezes) e boas leituras!

12/4/12 14:55  
Blogger Martin disse...

"Boas livrarias e bons livros seriam importantes para que a leitura fosse um prazer possível ao longo do vida, pelo menos, na medida em que ajudariam os leitores a evitar todo o lixo que para aí anda". Eu realmente gosto deste comentário, eu acho que é uma grande verdade. Eu sou um leitor amador, eu realmente gosto de livros orientais, lê-los hideki.

3/10/12 22:57  

diz ...

março 16, 2012



já acabei de ler o prémio leya 2011: o teu rosto será o último de joão ricardo pedro (pela d. quixote). é bom.

é um daqueles romances que que nos leva à infância, que nos faz rir e chorar no mesmo parágrafo, que nos perdidos entre suspiros nostálgicos e momentos de empatia. está lá tudo o que compõe a nossa memória colectiva e tudo o que constitui o nosso património cultural, até um certo queirozianismo.

começa assim:
"Uma coisa parecia certa: no dia vinte e cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro, faltaria ainda um bom bocado para as sete da manhã, Celestino apertou a cartucheira à cintura, enfiou a Browning a tiracolo, verificou o tabaco e as mortalhas, esqueceu-se do relógio pendurado num prego que também segurava um calendário e saiu porta fora. O céu começava a clarear. Ou talvez nem sequer tivesse começado a clarear. Por cima das sopas de café com leite, Celestino emborcava, sem esforço, dois tragos de bagaço. O primeiro, para a azia. O segundo, para os pensamentos cismáticos, que ele, como, aliás, todos os traços fisionómicos sugeriam, era homem dado a prolongadas melancolias."

descrições pormenorizadas, o ritmo - que vai sempre variando consoante a personagem em que se concentra o capítulo -, o lirismo conseguido através de estruturas sintácticas e pontuações apuradíssimas, o sentido de humor infalível e o pormenor da data na primeira frase da obra aos momentos de entretenimento estilístico que criam o ambiente e erguem a narrativa a um patamar encantador, como este, entre tantos outros:

"
Entrou no café. Tomou uma bica. Pediu uma caixa de chicletes verde. Saiu do café. Foi à praça. Comprou maçãs: um quilo e cem gramas. Peras: um quilo e setecentos gramas. Bananas: novecentos e cinquenta gramas. Morangos: um quilo. Cerejas: um quilo e quinhentos gramas. Carapaus: doze. Pescadas: duas. Robalos: quatro. Bacalhau: um. Abóbora: uma talhada. Nabos: dois. Espinafres: um molho. Cenouras: dez. Batatas: quatro quilos. Agriões: um molho. Brócolos: quatrocentos gramas. Flores: gerberas. Pão: dois de Mafra e doze carcaças. Tremoços: meio litro. Saiu da praça. Voltou a pôr os óculos escuros. Pousou cinco vezes os sacos no chão para descansar os braços. Entrou no prédio. Chamou o elevador. A luz do botão não acendeu. Subiu as escadas: três andares. Pousou duas vezes os sacos no chão: no primeiro andar e entre o segundo e o terceiro. Pousou novamente os sacos no chão para abrir a porta de casa. Largou os sacos na cozinha. Sentou-se. Esticou os braços. Esticou os dedos. Bebeu um copo de água. Levantou-se para ir à casa de banho. Mijou. Lavou as mãos. Voltou para a cozinha."

já disse que é bom, não disse?
mas a verdade é que é excelente.

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Blogger Martin disse...

Eu gosto de ler livros no meu tempo livre. Ontem foi jantar em hideki e meu irmão recomendado este livro. Vou comprá-lo e depois comentar se gostei ou não.

29/10/12 00:01  

diz ...

agosto 16, 2009

ler somerset maugham é como chegar a casa e descobrir que afinal a parede da sala não era bem azul e sim verde: quando o li pela primeira vez (14 anos: o fio da navalha, livros do brasil, 1967), o mundo ganhou nova dimensão, e a empatia que senti com as personagens deixou-me francamente deslumbrada. dez anos mais tarde, li of human bondage e as ligações intrincadas entre as figuras que ele imaginou mas não completamente levaram-me a considerar esta obra como o expoente sacrossanto deste autor.
agora estou a ler uma colectânea de contos, far eastern tales: delico-doce é como melhor consigo descrever a escrita de somerset maugham, e como fica aquém da realidade da mesma.

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Blogger gonca disse...

Pois é, "Of human bondage" é o livro que me mostrou que o amor é uma escravidão pura e insensata, e é por isso que é maravilhoso. Sugiro-te que leias "Cakes & Ale", vais adorar a ousadia da personagem principal. Bjo grande.

22/8/09 22:37  

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julho 14, 2009



wilson, andrew, beautiful shadow: a life of patricia highsmith (bloomsbury, 2004)

quando vi chegar o livro, ouvi-o sussurrar: "vem cá. de certeza que não me queres? toca a minha capa, vá. e abre-me, folheia-me. sabes quem sou?"

e não sabia, mas patricia highsmith foi uma mulher extraordinária.

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julho 07, 2009

"he set up his tripod and began to take photographs: east, west, all directions, shifting his camera with precision, as though he had marked out a grid on the ground. the camera clicked and clicked, like a gecko in his mating season.
i remembered the photographs in his house and wondered why he was never shown in them. was it because he had always been travelling on his own? 'let me take some pictures for you, so you can be in them as well', i offered.
he declined. 'my face would only spoil the pictures' ."



tan twan eng, the gift of rain (myrmidon books, 2007)

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fevereiro 25, 2009

nikos kavvadias (1910-1975)



'se réveiller et se trouver dans un pays où l'on vient pour la première fois. on se frotteles yeux, qui sont rougis et fatigués. on voit trouble. des hommes que l'on n'imaginait pas. on s'attache à eux. on s'en va. on se souvient d'eux quand on reste pour un temps chez soi, à l'heure où l'on se couche pour dormir. le souvenir n'a de valeur que quand on sait que l'on repartira pour un nouveau voyage. le pire des areniements, le plus grand désespoir est de jeter l'ancre dans son pays et de vivre de souvenirs.'(1)

o título original deste romance é vardia, que significa "render da guarda". kavvadias foi sobretudo um marinheiro. escreveu sobre as suas melancolias e desventuras, na maior parte das vezes sob a forma de poemas e muito do que escreveu foi adaptado em canções que ainda hoje se cantam por toda a grécia, esse país tão ligado ao mar.
no entanto, escreveu este romance, o seu único romance, e é tão amargo e lógico e repleto de mágoas que, muitas vezes, só se adivinham nas entrelinhas que eu não podia deixar de o referir aqui. li-o como uma grande confissão sem pudor, com o desfile de prostitutas, memórias, portos, paisagens e amigos a fazer de mim uma aspirante a marinheira também.
como se fosse um novo odisseu encalhado entre ilhas e ventos, nikos kavvadias fala do absurdo, mas sobretudo da relação entre o homem e o mar.


(1) in nikos kavvadias, le quart (éditions 10/18, 1994), p. 219. comprei a edição da 10-18 há sete anos, após me ter sido aconselhada a leitura de um poema seu, cujo nome não me recordo, por um ex-marinheiro cliente assíduo da livraria onde trabalho. essa edição esgotou duas semanas depois de a ter comprado. há três meses foi reeditada esta obra intimista, pela gallimard, na sua polida colecção folio.

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fevereiro 23, 2009

hermann ungar (1893-1929)





desde que descobri este autor checo, por mero acaso, há uns anos atrás, num catálogo de uma pequena editora, que o meu coração não bate da mesma forma quando pego numa das suas obras para reler.
é um misto de ansiedade e de arrebatamento: custa-me dormir quando leio ungar.

em 1920, publicou duas novelas escritas em alemão, "a man and a maid" e "story of a murder", sob o título boys & murderers, que viria a ser o título dado, pela editora checa twisted spoon press, a uma colectânea onde se incluem aquelas novelas e uma série de contos, alguns nunca antes publicados.
thomas mann escreveu no prefácio a uma recolha de contos de ungar, "colbert's journey", publicada em alemão em 1930:

' in his unlaughing comic sense, his sexual melancholy, in the bitter and often uncannily deliberate way in which he expresses his vision of life - in his mental and even his physical physiognomy there is a pallor, a fatal mark, an austere hopelessness.'(1)

três anos depois, publicava the maimed (2), que gerou muita controvérsia devido ao conteúdo sexual explícito e à violência eroticizada(3). e, na verdade, franz polzer até vive no mesmo cosmos que joseph k., seu contemporâneo. os medos e as pulsões são os mesmos, mas a neurose do primeiro é vivenciada de uma forma interna: polzer está preso a convenções, a regras sociais, a condicionalismos profissionais, ao decoro, e a um conhecimento tão extensivo de todas essas prescrições que o mesmo se torna sufocante (4), a tal ponto que extravia completamente do seu lugar na sociedade, primeiro em consciência, e na fase final quando passa à acção desmesurada. polzer é um mutilado, é imperfeito e essa é a sua frustração, porquanto ser perfeito como todos os outros, indistinto na multidão, era tudo o que sempre desejara.


em 1927, era publicada the class, onde hermann ungar nos apresenta mais uma personagem multidimensional, de seu nome josef blau, professor de profissão:com a ansiedade e o nervosismo presentes, acompanhamos este indivíduo extremamento inseguro diante dos seus alunos, que imagina virem a revoltar-se contra ele, reduzindo-o a uma anedota, desde a tentativa de impôr uma rigidez e uma disciplina gélidas na sala de aula às alucinações e às náuseas constantes quando percebe que a mesma disciplina que ele pensara servir de controlo despoletara já o movimento de rejeição total, de rebelião.

'josef blau hesitated for a moment before opening the door. would the shouts die away when he entered, would they submit, sitting at their desks, look at him in silence, or would the rebellion that would sweep him away break out immediately? he opened the door. the boys stood up, then sat down in silence at his sign. he did not look at the class. he felt their eyes on him, testing, probing, piercing, shameless eyes rumaging round inside him, curious eyes that missed nothing, neither a new line that had etched itself on his face, nor a different, more hesitating step, nor a changed heartbeat.' (5)


a escrita é crua e incisiva, a linguagem inteiramente desprovida de artifícios.
será esperar demasiado que seja, um dia, editado em português?


notas:
(1) in hermann ungar, boys & murderers (twisted spoon press, 2006), p. 10.

(2) existem duas edições em inglês, ambas publicadas em 2002: a primeira, pela dedalus, foi traduzida por mike mitchell; a segunda edição é da chancela da twisted spoon press, com uma tradução de kevin blahut.
(3) stefan zweig expressou a opinião generalizada, dizendo que era uma obra surpreendente e horrível, cativante e repulsivo, inesquecível, embora uma pessoa gostasse de ser capaz de a esquecer.
(4) sempre achei que a desorientação em crescendo de joseph k. existe numa dialéctica tensa com a ausência de identificação, de delimitação, ausência mesmo de agente opressor, mas não se fica por aqui claro, nem pretendo aspirar a analisar esse labirinto.
(5) in hermann ungar, the class (dedalus books, 2004), p. 150.

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novembro 24, 2008

a mafia está na vanguarda da sociedade e sabe aproveitar todos os instrumentos disponibilizados pela globalização.
a máfia é, neste momento em que potências económicas e países à deriva no planeta enfrentam crises semelhantes, a única organização mundial (com todas as suas ramificações) que apresenta não só lucros fabulosos, como tem em consideração caras novas e suas ideias frescas e investe em novos métodos operacionais que potenciam os negócios já existentes.

misha glenny, mcmafia: a journey through the global criminal world (alfred a. knopf, 2008)

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setembro 15, 2008



murakami, haruki, what i talk about when i talk about running (vintage, 2008)

vou a meio. é a primeira vez na vida que leio uma espécie de autobiografia.

p.s.: muito mais que uma autobiografia, é mais uma espécie de memória.

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Blogger Kate Hudson disse...

Li uma entrevista no Spiegel on-line que me despertou o interesse por esse livro, ajudado por algum mistério que atribuo a Murakami. Imagino que esta seja um autobiografia enviesada, um pouco como 'A moveable feast' são notas autobiográficas de Hemingway. Espero vir a gostar deste de Murakami como gosto do de Hemingway. Fico curiosa para saber se gostou, quando acabar.

16/9/08 20:37  

diz ...

setembro 13, 2008

microtrends
mark zinney & e. kinney zalesne

são as tendências mais pequenas, resultantes de conjunturas por vezes bastante expressivas em termos sociais, que conduzem a grandes mudanças.
mas é claro, como refere mark penn, o futuro nunca é o que se prevê.

1. amor, sexo e relacionamentos
- solteiros/sozinhos
- mulheres mais velhas com homens mais novos
- amores de escritório
- casais que vivem a longa-distância entre si
- casais internautas

2. vida profissional
- reformado que trabalha
- gente que trabalha a uma distância extrema de casa
- gente que trabalha em casa
- mulheres de palavra
- amazonas fervorosas

3. raça e religião
- mulheres que partem os vitrais do tecto da igreja
- pro-semitas
- famílias inter-raciais
- hispânicos protestantes
- muçulmanos moderados

4. saúde e bem-estar
- gente que odeia o sol
- gente que dorme mesmo muito pouco
- canhotos à solta
- doutores "faça você mesmo"
- duros de ouvido

5. vida familiar
- velhos recém-pais
- pais de animais de estimação
- pais que mimam
- gays que tardam em se assumir
- filhos carinhosos

6. política
- elites impressionáveis

"how many talk show guests make less than $100,000 a year? How many reporters talk to many people making less than $100,000 a year? The elite information circle is dominated by people who live in the world of the top 10 percent, and while in the past that helped drive discussion to more substantive levels, today it just does the opposite. Today, the elites are more fascinated with gossip, and they are driving the debate away from substantive and toward the superficial." (p. 134)

- mudança de voto, a rainha da festa
- imigrantes ilegais mas militantes
- cristãos zionistas
- recém-libertados ex-condenados

7. adolescentes
- os levemente perturbados
- jovens que tricotam [também me custa a acreditar]
- ídolos adolescentes negros
- magnatas adolescentes
- aspirantes a sniper

8. comida, bebidas e dieta
- crianças vegan

"Aside from the salads, the industry [of food] appears stuck in the meat and potatoes syndrome, believing that vegetables are something that kids will eat only under extreme duress. They are missing the trend - a lot of kids now genuinely like vegetable-based foods. the meat industry is so concerned about what is happening that, in 2003, it launched a counteroffensive. Targeting those teenage girls who have been driving the trend, the National Beef Council launched a carefully tailored pro-meat education campaign, with the basic underlying message: «Real girls eat Beef». If the Veggie Child trend is sustained through adulthood, the industry's future could be at risk. It could mean a healthier America, too." (p. 179)

- peso desproporcional
- passar fome para viver mais
- viciados em cafeína

9. estilo de vida
- gente que se concentra bem mais que os outros
- pais negligenciados
- falam apenas a língua materna
- unissexuais

10. dinheiro e estatuto
- compradores de segunda casa
- mary poppins modernas
- milionários tímidos
- burgueses e falidos
- gente que não lucra nada com o que faz

11. moda e aparência
- tatuagem com estilo
- sujo debaixo do tapete
- viciados em cirurgias
- as baixinhas poderosas

12. tecnologia
- geeks sociais
- novos luditas [gente que não acha piada nenhuma à inovação]
- mulheres fatais com tecnologia
- mães de futuros futebolistas que compram carros

13. lazer e entertenimento
- mães arqueiras [colectivo vs. individual, convencional vs. alternativo]
- homens que amam pornografia
- adultos viciados em video-games
- músicos neo-clássicos

14. educação
- criança inteligente fica para trás
- educados em casa
- os que desistem da faculdade
- viciados em números

15. tendências internacionais
- mini-igrejas
- compradores de casa no estrangeiro
- casais que vivem juntos em casas separadas
- homens adultos que vivem em casa dos pais
- o filho único europeu
- empreendedor vietnamita
- os franceses e o vinto tinto de luxo
- os picassos chineses
- os indecisos russos
- a escalada das mulheres indianas
- terroristas educados


penn, mark j. & zalesne, e. kinney, microtrends: surprising tales of the way we live today (penguin, 2008)


nota bene 1: não fiz uma tradução literal, optei por uma mais livre, dos capítulos desta obra, pelo que de modo nenhum deverão as expressões empregues ser encaradas como ofensivos, críticas ou perversas e sim como bem-humoradas diante do rol de micro-tendências agora detectáveis a olho nu pelo cidadão comum.

nota bene 2: à excepção do último ponto, o contexto em que o livro foi escrito - e o mercado em que estas tendências foram detectadas e analisadas - é o da economia norte-americana e suas condicionantes políticas e sociais, ainda que sejam indicados exemplos do que sucede, em termos de comparação, no restante planeta.

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julho 11, 2008

lista de compras

penn, mark & zalesne, e. kinney, microtrends: surprising tales of the way we live today (penguin, 2008)

pollan, michael, the omnivore's dilemma: the search for a perfect meal in a fast-food world (bloomsbury, 2007)

klein, naomi, the shock doctrine: the rise of disaster capitalism (penguin, 2008)

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junho 23, 2008

leitura do dia


hawken, paul, blessed unrest: how the largest social movement in history is restoring grace, justice and beauty to the world (penguin, 2008)

prós: recolhe, num documento sem paralelo, os motivos que fazem com que pessoas de todo o mundo se manifestem, protestem e digam não a governos, multinacionais e ao capitalismo global, e como podem elas, dessa forma, constituir um poderoso bloco anti-globalização
contra: não tem.

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Blogger . disse...

Nunca lê nada com que não esteja já à partida concordante? Just a question

27/6/08 00:15  
Blogger cassandra disse...

claro que sim! mein kampf de adolf hitler, diplomacia de henry kissinger, o fim da pobreza de jeffrey sachs, cozinha na itália de jamie oliver, o poder das ideias de isaiah berlin, o caminho para a felicidade de ron hubbard, para apenas mencionar os mais recentes. o facto de trabalhar numa espécie de talho de livros, faz com que eu aprecie muito mais a leitura de um livro que me ensina qualquer coisa do que a de uma obra que me desilude. e nunca estou à partida concordante com algo que nunca li: a leitura é uma descoberta sempre. senão nunca lia nada e acreditava apenas em mim e morria ignorante.

29/6/08 00:57  

diz ...

junho 22, 2008

leitura do dia

nouzille, vincent, empoisonneurs: enquête sur ces polluants et produits qui nous tuent à petit feu (fayard, 2005)

prós: recolhe testemunhos de vítimas, cientistas e investigadores; chama, sem medos, à responsabilidade as indústrias químicas.
contra: está escrito num francês que exige o recurso frequente a um bom dicionário.

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leitura do dia


patel, raj, stuffed and starved: markets, power and the hidden battle for the world food system (portobello books, 2008)

prós: o tom urgente da escrita equivale à urgência da necessidade de agir perante o cenário delineado; indicia a ligação à indústria farmacêutica
contra: indicia a ligação à indústria farmacêutica mas com demasiadas cautelas e constrangimentos.

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junho 21, 2008

leitura do dia


shah, sonia, cobaias humanas - os testes de medicamentos no terceiro mundo (caleidoscópio, 2008)

prós: a temática do poder das grandes indústrias farmacêuticas, os seus subterfúgios isentos de ética e as suas motivações capitalistas;
contra: não chega completamente ao fundo da questão, pelo que o livro resulta em exposição, denúncia simplificada.

à parte: segundo o banco mundial, algo como melhorar as condições de vida no terceiro mundo através de instalações sanitárias e distribuição em rede de água potável não é "cost effective".

i beg to differ...

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junho 20, 2008

leitura do dia


maier, karl, this house has fallen: nigeria in crisis (penguin, 2002)

prós: ambicioso, sem condescendências, imparcial, abrangente e compreensivo quanto a datas marcantes da história recente daquele país
contra: não tem

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abril 27, 2008

de intenções está a vida cheia



tetsuko kuroyanagi, totto-chan (kodansha, 1996)
tokyo time out guide (2007)
the little tokyo subway guidebook (ibc/tokyo metro co, 2007)
subway guide to tokyo (tuttle, 2005)

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fevereiro 03, 2008

leitura da semana

na verdade, a leitura foi tão ávida que a fiz em uma hora.



silvia bonino, mil amarras me prendem à vida. (con)viver com a doença (colecção saúde e sociedade, quarteto, 2007).

"narrar uma doença a médicos ou enfermeiros, mas também aos próprios familiares e amigos e até mesmo a desconhecidos, torna-se uma forma de reencontro consigo mesmo e com as próprias possibilidades de desenvolvimento."

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