fevereiro 27, 2005
i. para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? para onde ele se dirigiu e procuraremos contigo?
ii. o meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para se alimentar dos frutos do jardim e para colher os lírios.
iii. eu sou do meu amado e o meu amado é meu - ele alimenta-se entre os lírios.
iv. bela és, amiga minha, como tirza, amável como jerusalém e esplêndida como um exército com bandeiras.
v. perturbam-me, desvia de mim os teus olhos porque eles perturbam-me. o teu cabelo é como o rebanho das cabras que pastam em gilead.
vi. os teus dentes são como os rebanhos de ovelhas que sobem do lavadouro, nenhuma estéril e todas gerando gémeos.
vii. como um pedaço de romã, assim são as tuas faces entre as tuas tranças.
viii. sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas e inumeráveis as virgens.
ix. mas uma é a minha pomba, a minha pura, a única de sua mãe e a mais querida de aquela que a deu à luz. Vendo-a, as filhas lhe chamarão bem-aventurada e as rainhas e as concubinas a louvarão.
x. quem é esta que surge como a aurora do dia, bela como a lua, brilhante como o sol e esplêndida como um exército com bandeiras?
xi. desci ao jardim das nogueiras para ver os novos frutos do vale, talvez florescessem as vides e brotassem as romeiras.
xii. antes de eu o saber, me pôs a minha alma nos carros do meu excelente povo.
xiii. volta, volta, ó sulamita volta, para que nós te vejamos. porque olhas para a sulamita como para as fileiras de dois exércitos?
in salomão, cântico dos cânticos (sintra, edições mar*fim, 1987)
tradução de maria simão
fevereiro 26, 2005
uma garrafa de leite
frio e estendia-se nua
no sofá. de vez em quando
deixava que algumas gotas
lhe escorressem dos lábios
e lhe fossem perlar os pêlos
do púbis negros como azeviche
jorge de sousa braga, o poeta nu (lx, fenda, 1999)
no teu mamilo perdeu a
vontade de voar
jorge de sousa braga, balas de pólen (v. n. famalicão, quasi, 2001)
fevereiro 21, 2005
por favor, dêem-me o meu sol e o meu calor de volta!
não sei onde páram, a última vez que os vi foi em setembro, em frente das ruínas do carmo, sentada nuns degraus, ao lado de uns pombos nojentos. vestem-se de amarelo e de quentinho, respectivamente.
p.s.: oferecem-se alvíssaras.
- O poeta noctívago disse...
-
As alvíssaras até dariam jeito... Ainda para mais, numa época de recessão económica...
- disse...
-
alvíssaras da vazia, é claro, com um bom requeijão e mel. isto para as tardes de soelheira pasmaceira, mesa de carvalho sobre o terreiro e olhar para os putos que sobem às árvores no quintal...
fevereiro 19, 2005
metade da minha vida passei-a com a certeza de ser escritora.
a vontade é a palavra-chave, sempre foi.
sabem, sinto-me como se tivesse ficado atravessada no meu próprio caminho, não sei onde ou quando, mas sei que não sou obstáculo suficiente para a minha vontade.
por que acredito que as coisas acontecem quando têm de acontecer, vejo chegada a hora.
começo hoje.
escrever é brutal, grosseiro, com laivos de crueldade. é assim que vivo a escrita. de forma alucinante.e gosto.
trazer alguém de fora para este mundo parecia-me mesquinho.
o que agora escrevo, o que agora iniciei é diferente, escapa-se-me por entre os dedos.
quer ir longe e não tem medo de ser visto nu a caminho do sol.
p.s.: isto é uma boa notícia... e não implica esquecer o blog.
- Amaral disse...
-
Muito boa notícia, só não sabemos o quê, como, onde? Poderás dar-nos mais pormenores? Se começas hoje, é porque surgiu uma oportunidade, ou é algum regresso ou uma continuidade? Vamos seguir com muita atenção essas novidades! Conta pra nós!
- O poeta noctívago disse...
-
O que o sangueoculto escreveu faz-me lembrar uma música dos Mão Morta, banda do meu bom amigo Adolfo. :) Trata-se do tema "Desmaia, Irmã, Desmaia", do disco "Corações Felpudos" - 1990.
- O poeta noctívago disse...
-
Cassy, e já o pude afirmar anteriormente, admiro a forma como te expressas. O desfecho é uma tirada deliciosa.
Pessoalmente, escrever é um dos meus actos diários básicos. Gosto das palavras. De sentir a sua seiva a escorrer-me pelas paredes da alma.
É uma emoção fortíssima a de concluir um poema. Ali nasceu algo. Que provém de um autor, mas que acaba por ganhar vida própria. - O poeta noctívago disse...
-
A emoção da escrita só é superada pela emoção de subir a um palco. De cada vez que tal me sucedeu, gerou-se, no meu interior, uma adrenalina única, excelsa.
Pessoalmente, a sensação de se ser actor é a melhor de todas. :))) - r.e. disse...
-
fico contente por ti, cassandra. tenho visitado com expectativa o teu blog. escreves bem, com mistério que anuncia sempre um pensamento que não expressaste, e que ficou a amadurecer, para (como diz o Wittgenstein) não cair cedo demais. parabéns pela força que revelas. Um beijinho. J.
fevereiro 15, 2005
não quero impôr-me limites, não quero deixar de me sentir assim.
quando tiver de ter um fim, terá.
tudo a seu tempo.
nada de pressas.
como se mede o sentimento?
que extensão tem o meu gostar?
porque é que te assusta a diferença entre gostares se somos pessoas diferentes?
quero gostar-te* assim e não te estou a pedir autorização
* gostar-te é meu privilégio e escrevo-o desta forma porque sim.
- Amaral disse...
-
O sentimento não é medível, assim como o amor nunca poderá ser condicionado. Sentir é próprio da alma. Pensar é próprio da mente. Gostares (amares) alguém é um direito genuíno. Faz parte da tua liberdade. Ninguém (nem lei nenhuma) pode proibir. Amar é próprio do ser humano, porque faz parte do Ser. Porque és feita de Amor, ama livremente!
- cassandra disse...
-
grande amaral!
- O poeta noctívago disse...
-
A perspectiva do Amaral é de ter em conta, no entanto... amar... é uma faca de dois gumes.
- disse...
-
Caro poeta, só o que vale a realmente a pena tem dois gumes. E é o que interessa viver, não é?
- Amaral disse...
-
Deixa-me só dizer uma palavra ao poeta: amar nunca poderá ser uma arma de dois gumes. Porquê? Porque "amor" é o tecido de que somos feitos. Só que o ser humano ama "à sua maneira". Quando perceber que o amor incondicional é o único "amor verdadeiro", entra em comunhão imediata com tudo e todos - com o universo inteiro.
- O poeta noctívago disse...
-
Sei que há pontos de concordância e discordância, relativamente ao que foi redigido.
Todavia, não podemos olvidar que o amor, como tudo na vida, é algo de ambivalente.
Enfim... muito há a dizer sobre o assunto. Mas não pretendo espraiar-me a esmo. - cassandra disse...
-
essa da "faca com dois gumes" é recurso de cobardes. a ideia de amor não é conjugável com essa treta de expressão! amor é uma coisa que nunca experimentaste, poeta, caso contrário, não teria havido lugar para essa sensação.
p.s.: usei a palavra afecto propositadamente; é um sentir cheio de carinho cuja pedra basilar é uma amizade profunda. - O poeta noctívago disse...
-
Pareceu um momento político. Fui atacado e vítima de injustiça. Logo, urge defender-me e repor a verdade dos factos: em primeiro lugar, sou uma pessoa idiossincraticamente vincada,um lutador por natureza. Não tenho memória de um momento de cobardia na minha vida. Sempre a enfrentei "olhos nos olhos". Em segundo lugar, não é uma "treta de expressão". É tão plausível como os restantes escritos. Em terceiro lugar, conheço muito bem o significado e a substância da palavra AMOR. Por o ter experimentado em primeira mão. Por isso é que sei que apresenta dois lados.
Cassandra, não há que esperar consensos, todavia, pensei que respeitasses a minha opinião assim como respeitei a tua.
Cumprimentos. - cassandra disse...
-
respeito a tua opinião, sim, mas pareceu-me demasiado sombria.
peço desculpa se te magoei. não foi minha intenção. cassy - Amaral disse...
-
Não foi minha intenção alimentar ou ocasionar um mau-entendido. Desculpa, Poeta, desculpa Cassandra! Temos todos direito às nossas opiniões! Se forem divergentes, melhor!
- O poeta noctívago disse...
-
Ora folgo em saber que a situação ficou sanada! Propalou-se um mal-entendido que se extinguiu. Estão ambos desculpados. :)
Estimada Cassandra, penso que a palavra mais adequada ao que afirmei é realista. Logo é inerente que se desencadeie uma mescla de luz e sombra. O que já vivi ensinou-me a encarar-me tudo de frente. A conhecer os lados positivo e negativo das coisas. Ensinou-me a ter um posicionamento de distanciamento mediante parcialismos. A verdade é que sou mais racional do que sentimental, no entanto, estou longe de me encontrar exaurido de emoções.
Caro Amaral, é óptimo existirem peculiaridades que demarquem as pessoas. É isso que dá mais cor ao modo como expressamos o que pensamos.
Por fim, gostaria de dizer qual a razão do meu encanto por este cantinho que a Cassy partilha connosco: admiro a maneira genuína como te dás ao mundo e nele derramas a tua beleza.
Post Scriptum: Aproveito para citar Alfred de Musset: " A vida é um sono de que o amor é o sonho, e vós tereis vivido se tiverdes amado." - O poeta noctívago disse...
-
E não é "encarar-me", mas sim "encarar". Fica feita a auto-correcção. :)
fevereiro 14, 2005
"quero, do movimento horizontal da tua roupa, tirar a fragância mágica do amanhecer. quando o sol cruza as persianas, cindindo-se em feixes, marcando-nos, aconchego-te a mim, movimento inconsciente de extensão de mim próprio."
- Amaral disse...
-
...ainda consegues abri-la? -;)))
- O poeta noctívago disse...
-
Eis um acordar peculiar... Decerto, despertas sempre "enraizada" nas cores do horizonte. :)
- cassandra disse...
-
é a janela da cozinha, virada a nascente. não é minha em regime de exclusividade, só entre as 7h e as 8h...
fevereiro 13, 2005
qed
diane l.
carla de elsinore
sombra
ana carina
gata
ghibli
louise b.
raspa
jordi
alirka
inesca
antígona
laurindinha
púrpura
joana
triciclofeliz
inêskine
ch'an
- Ghibli disse...
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Obrigada pela menção... ;)
não pensei que a minha presença tivesse sido notada! :) - cassandra disse...
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claro que foste notada, ora essa! com um nome desses e gostando eu de anime... :)
- Carla de Elsinore disse...
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fala-me a cantar! ;-)
- raspa disse...
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Muito obrigada:) (mesmo em biquinhos dos pés fica rasto)
- inês disse...
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olha que coisa mais linda!
fevereiro 11, 2005
- Amaral disse...
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A reciprocidade do prazer tem uma teoria?
Eu penso que o prazer é recíproco a todos os níveis, quando ele é genuíno. Só que nem sempre a reciprocidade se manifesta. Tomando como certa a ideia de que nada existe no mundo "sem vida", o prazer que me dá a contemplação de determinado ponto da natureza proporciona uma reciprocidade natural, mesmo que a outro nível?... - Luís Serpa disse...
-
E quando, finalmente, surgiu a sombra de uma infíma possibilidade de desacordo, ele não a deixou escapar. E que diz a lei da reciprocidade do prazer? Que ela (reciprocidade) não existe? Que é uma miragem para pré-punks, post-modernos e românticos descarrilados nos rails do tempo? Que não há acto mais egoísta que o do amor? E que bom é que assim seja, porque dou ao outro corpo mais prazer se nele procurar só o meu?
Haverá, nesta como noutras matérias, uma contradição ente a teoria e a praxis? Não sei. Não conheço a lei da reciprocidade do amor. Não conheço leis nenhumas, de resto, nas áreas sobrepostas do prazer e do amor. Sei apenas que não é um jogo de soma nula: é um jogo de soma múltipla, a cada vez renovada.
PS: Obrigado.
PS2: O Somatos é um dos blogs mais estimulantes que conheço. Devo agradecer-te as inúmeras divagações que ocasionaste a partir do que escreves.
fevereiro 10, 2005
jpn
luís aguiar-conraria
af
ardente_mente
predatado
sLx
sangue oculto
r.e.
um tiago
jmac
sérgio
max hughes
jorge
miguel cardina
mira
amaral
ln
alemtedio
lgm
o poeta noctívago
joão sousa
ctx
luis ricardo
alexandre
pianodrunk
paulo ribeiro
luís serpa
vincent
gajo
e todos os passeantes sem rasto...
- cassandra disse...
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claro que não! estou a celebrar um aninho, não posso deixar-me ficar por aqui ;) daqui a uns dias, cantarei das damas que por cá deixam seus dizeres...
- Amaral disse...
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Conheci o teu blog por outros por onde andei. E assim acontece a centenas mais...
Por mim, vou continuar a visitar-te com regularidade... - Carla de Elsinore disse...
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é pá parabéns. dá-me ideia é que só mencionaste gajos e bom, eu não sou um gajo.
- Luís Aguiar-Conraria disse...
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Apeadeiro? Não! Estação de paragem obrigatória. Muitos parabéns!
- O poeta noctívago disse...
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Endereço-te os parabéns pelo belíssimo blog e aproveito para te agradecer a menção honrosa. Melhor do que isso... só mesmo as palmas que recebo no palco! :)
- cassandra disse...
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gajo só há um :)
- cassandra disse...
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não me posso esquecer de uma coisa importantíssima!
luís: se não fosse aquele teu mail, há algum tempo atrás, duvido que eu tivesse continuado, com aquele atributo valioso, por aqui.
joaquim p. nogueira: sinto-me honrada. - mostrenGo Adamastor disse...
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Um monstro horrendo terá que incluir-se na categoria de gajo... e as ninfas sabem bem disso.
Tenho é sérias dificuldades em comentar neste sistema.
http://www.substrato.weblog.com.pt - R2D2 disse...
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Obrigado pela referência e parabéns pelo ano de somatos e pela belíssima escrita praticada.
Cumprimentos - r.e. disse...
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obrigado pela referência. continuarei a apear-me nesta estação, por vezes para embarcar de novo. outras para pernoitar na vila. um beijo. J.
fevereiro 08, 2005
guardo o ímpeto para pessoas especiais e domei o impulso de provocar.
aprendi coisas novas, sons diferentes.
aprendi a dialogar.
mas estou só a começar...
- Amaral disse...
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Serás certamente uma Cassandra que evoluíu, e escolhe agora ser uma versão diferente daquela que era há um ano atrás.
As coisas novas e os sons diferentes reflectem, com certeza, a alteração suficiente para surgir uma Cassandra com outra dimensão.
Com a certeza, também, de que, a todo o momento, poderás optar por ser diferente. - PreDatado disse...
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Seja qual for a Cassandra que leia este comentário, são para ela os parabéns por este ano de blog!
- cassandra disse...
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que bom ler o que escreves :) e que bom ter pessoas tão genuínas como tu a passear por aqui... isto não acabou, a provocadora persiste, anda por cá.
penso que amadureceu, agora faz escolhas e pensa nelas ;)
a cassandra deixou de se dividir, está muito mais consciente de si mesma. e preza-se muito, tanto quanto aos amigos que foi fazendo ao longo do tempo...
fevereiro 05, 2005
- O poeta noctívago disse...
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Vamos ver se a Cassandra será capaz de desvendar o mistério...
fevereiro 04, 2005
nay, her foot speaks. her wanton spirits look out
at every joint and motive of her body.
william shakespeare, troilus and cressida, 4.5.54-57
- Luís Aguiar-Conraria disse...
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She moves in mysterious ways...
U2
fevereiro 03, 2005
- O poeta noctívago disse...
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Stop the press!
fevereiro 01, 2005
"morena, espectacular, 77 anos: voluptuosa, técnica apurada, 65 anos de experiência."
aplausos, por favor!
- O poeta noctívago disse...
-
lOOOl
diz ...