vamos falar de anime: bakumatsu kikansetsu irohanihoheto ii esta foi a melhor série do inverno passado, a única que realmente me prendeu a atenção, uma animação com contexto histórico, e cujo lançamento no japão foi muito discreto.
mas este contexto histórico em breve se revela exigente (a ponto de alguns fãs da série andarem constantemente a ir à wiki verificar nomes de personagens e batalhas). portanto discreto, sim, até um certo ponto - a partir do momento em que começou a ser falado nos múltiplos sites sobre anime japonesa, o «discreto» foi ao ar.
até porque, ao longo do primeiro episódio, percebemos que a teatralidade do cenário e dos personagens é tanta que a série não continuaria despercebida por muito mais tempo.
teve o seu melhor período entre os episódios 1 e 13, é verdade, e senti alguma desorientação no argumento depois disso, como se quisessem puxar diversos fios que ligariam a pontos diversos e inconvergentes num mapa abstracto.
todos os personagens têm um valor imenso, sobretudo os secundários cuja presença abrilhantaram a série: tayu, o médico, o ajudante de hijikata, o grupo de 4 guerreiros de elite ingleses e mesmo o arrogante nakaya jubei. hijikata e a sua evolução, representada pela viagem para norte, para um fim infeliz mas honrado, é mesmo sublime. e o contraponto apresentado por kanna, face a youjirou, é também ele muito bem elaborado e rico em pormenores, como a referência constante à mãe, e à cena passada, em que a mãe segue viagem para longe dele e uma pedra do caminho trilhado pela carruagem da mãe o atinge no rosto, directamente num olho, ferindo-o com gravidade. esta insistência num determinado momento da vida é reveladora da mudança gradual que se vai operando em kanna, desde a compostura lúcida dos primeiros episódios ao desvario final.
tenho a certeza de que kanna e kakunojo têm a mesma mãe, e que, quase de certeza, ela e youjirou partilharam algumas brincadeiras de infância. ficam por responder muitas perguntas, sobretudo sobre ibaragi sousetsu: quem é, porque razão o tratam, ao longo da série, com tanta deferência, e como pôde ele escrever as peças que a trupe levou à cena? dez anos. ele deveria ter cerca de dez anos quando a mãe o abandonou. como a canção que kakunojo entoa aqui e ali.
o sensei ibaragi sousetsu é realmente um vilão inacreditável, cheio de recursos e conhecimentos prévios e estranhos. obviamente, fica por explicar a sua origem assim como a origem do seu conhecimento, mas percebemos que ele não pode ser completamente maléfico porque tayu, a gueixa que, sucessivamente, segue a trupe e os seus espectáculos, fá-lo apenas porque a peça é escrita por aquele a quem ela refere sempre como sensei.
se inicialmente é uma anime muito contextualizada, em termos histórico-sociais, depressa resvala para o campo do surreal, com kakunojo a vestir a pele de joana d'arc, convocando à insurgência do povo por uma causa desesperada.
em termos técnicos, a produção tem critérios muito elevados e tanto a arte (desenho) como a animação estão bem acima do padrão habitual de animação para tv (mesmo que japonesa). os cenários são muito bons e harmonizam-se sempre com a acção e os personagens são fluidos e cheios de realismo. como se isso não bastasse, a banda sonora é simplesmente esmagadora: é só ouvir com umas colunas fixes e verão! é tudo muito bem orquestrado, desde a introdução ao tema final, passando pelas músicas de ligação, para nos transmitir a ambiência. resumindo: o núcleo da história é, na verdade, muito ingénuo e simples, sem grandes surpresas no decorrer da acção mas aquelas histórias secundárias, que nos vão apresentando os muitos personagens da série é que a tornam preciosa.
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