reescrita v
ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, apercebia-me de que estava a explorar um imaginário que, ali mesmo, era universal. sibele terminou a tal canção e houve um segundo, pouco mais, em que o silêncio era total. todos os que ali a escutaram e almejaram compensavam-se agora num orgasmo psicológico com a fantasia da mulher. os nossos olhares encontraram-se: o sorriso desapareceu-lhe dos lábios e o calor evadiu-se-lhe do olhar. agora, ela já não passava de um sexo com pernas mal-cobertas.
sibele escondia-se sob aquela capa dura e distante e mesmo quando se soltava, quando se permitia ser ela própria, quente e provocadora, como enquanto cantava e insinuava nudez, não deixava de se escudar pela etiqueta de assassina, queria que a temessem, queria que a tomassem por uma mulher forte, que se impõe, que controla, não queria que descobrissem quão frágil ela podia ser.
ergui-me e, discretamente, fui até aos bastidores. sem me fazer anunciar, entrei no camarote dela. uma garrafa já meia repousava sobre a bancada diante da qual ela se sentara.11
- vieste chamar-me cobarde?
- porque é que deveria chamar-te cobarde?
- é o que eu sou!
ela desatou a chorar. a chorar! mas o deleite durou pouco: num minuto, sibele havia eliminado quaisquer vestígios de uma e de todas as lágrimas.
- vai-te embora. Tenho de ir para lá outra vez.
- cantar?
- não, sentar-me nos colos daqueles nojentos meio mortos.
- se os achas nojentos, porque é que o fazes?
- porque me dá prazer! enfia uma coisa na tua cabeça, eu só faço o que eu tenho vontade de fazer.
- está bem.
desta vez, quando nos encarámos, foi de um modo diferente, com um homem e mulher se encaram.
- e tu, também te imaginaste entre as minhas pernas?
nem pestanejei.
- sim.
ela ergueu-se e o vestido negro esvoaçou, espalhando um perfume intenso.
- é muito mais divertido e fácil dominar um homem pelo desejo.
- porquê?
- o homem não entende o desafio que a mulher lhe apresenta através da palavra, mas quando se trata de desejo... não se pensa nisso: vai-se em frente, não é o que vocês fazem?
- e em que é que isso torna mais fácil o domínio do homem por uma mulher?
- deixamos o homem pensar que é ele quem domina. mas somos nós, mulheres, que o aceitamos dentro de nós, nós é que podemos prendê-lo, retê-lo até à explosão. a mulher nem precisa do homem para se sentir presa, mas só nós é que conseguimos sufocar um homem.
e saiu do camarote. segui-a, passando ao lado da mesa do presidente da câmara, ao colo de quem sibele se apressara a sentar, e fui-me embora. não quis ficar com aquela imagem na cabeça, mas durante toda a noite só consegui pensar na mão carnuda dele sobre o sexo, húmido e palpitante, dela. não era ele quem a convidava.
ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, apercebia-me de que estava a explorar um imaginário que, ali mesmo, era universal. sibele terminou a tal canção e houve um segundo, pouco mais, em que o silêncio era total. todos os que ali a escutaram e almejaram compensavam-se agora num orgasmo psicológico com a fantasia da mulher. os nossos olhares encontraram-se: o sorriso desapareceu-lhe dos lábios e o calor evadiu-se-lhe do olhar. agora, ela já não passava de um sexo com pernas mal-cobertas.
sibele escondia-se sob aquela capa dura e distante e mesmo quando se soltava, quando se permitia ser ela própria, quente e provocadora, como enquanto cantava e insinuava nudez, não deixava de se escudar pela etiqueta de assassina, queria que a temessem, queria que a tomassem por uma mulher forte, que se impõe, que controla, não queria que descobrissem quão frágil ela podia ser.
ergui-me e, discretamente, fui até aos bastidores. sem me fazer anunciar, entrei no camarote dela. uma garrafa já meia repousava sobre a bancada diante da qual ela se sentara.11
- vieste chamar-me cobarde?
- porque é que deveria chamar-te cobarde?
- é o que eu sou!
ela desatou a chorar. a chorar! mas o deleite durou pouco: num minuto, sibele havia eliminado quaisquer vestígios de uma e de todas as lágrimas.
- vai-te embora. Tenho de ir para lá outra vez.
- cantar?
- não, sentar-me nos colos daqueles nojentos meio mortos.
- se os achas nojentos, porque é que o fazes?
- porque me dá prazer! enfia uma coisa na tua cabeça, eu só faço o que eu tenho vontade de fazer.
- está bem.
desta vez, quando nos encarámos, foi de um modo diferente, com um homem e mulher se encaram.
- e tu, também te imaginaste entre as minhas pernas?
nem pestanejei.
- sim.
ela ergueu-se e o vestido negro esvoaçou, espalhando um perfume intenso.
- é muito mais divertido e fácil dominar um homem pelo desejo.
- porquê?
- o homem não entende o desafio que a mulher lhe apresenta através da palavra, mas quando se trata de desejo... não se pensa nisso: vai-se em frente, não é o que vocês fazem?
- e em que é que isso torna mais fácil o domínio do homem por uma mulher?
- deixamos o homem pensar que é ele quem domina. mas somos nós, mulheres, que o aceitamos dentro de nós, nós é que podemos prendê-lo, retê-lo até à explosão. a mulher nem precisa do homem para se sentir presa, mas só nós é que conseguimos sufocar um homem.
e saiu do camarote. segui-a, passando ao lado da mesa do presidente da câmara, ao colo de quem sibele se apressara a sentar, e fui-me embora. não quis ficar com aquela imagem na cabeça, mas durante toda a noite só consegui pensar na mão carnuda dele sobre o sexo, húmido e palpitante, dela. não era ele quem a convidava.
diz ...