fissura espacio-temporal (parte 1 de não sei bem que totalidade)
(os gregos já disseram tudo, mas talvez não tenham imaginado tão longe quanto possível.)
partindo do pressuposto que o espaço é contínuo e infinitamente divisível, segundo teoria inicial de zenão de eleia [1] é perfeitamente imaginável uma realidade paralela em que o homem vive num momento eterno.
primeiro, a explicação da continuidade/divisibilidade do binómio espaço-tempo:
qualquer objecto em movimento tem um percurso até alcançar a sua meta, mas antes de lá chegar há que percorrer primeiro metade do caminho, sendo então estabelecida nova meta, a que delimita as duas metades do percurso. a primeira metade é agora um caminho a ser percorrido e também ele tem duas partes, sendo primeiro necessário alcançar o limite da metade desta metade. e assim ad infinitum.
o movimento que constitui o percurso entre estes momentos nunca termina e nunca o objecto atinge realmente a sua meta. esta continuidade é homgeneidade pura, todas as diferenças são eliminadas, e o que resta é o objecto per se.
ora, se isto sucede no plano espacial e todo o movimento fica «congelado», não há progressão temporal e, consequentemente, não há amadurecimento/envelhecimento nem a nível físico nem a nível psicológico.
parece-me, contudo, que, da repetição do momento presente a que o objecto-sujeito está preso, derivará forçosamente um empobrecimento mental: os momentos que se sucediam e se distinguiam, agora fundem-se e a nossa consciência não tem necessidade de registar o mesmo número de fenómenos que registava antes.
segundo, o homem preso na eternidade:
uma das ambições do homem sempre foi a de conseguir uma formula mágica que impedisse ou o envelhecimento ou a morte e a imaginação levou-o a testar tudo, à excepção de si próprio.
sabemos que a criatividade e a capacidade que o homem tem de imaginar é o factor que nos distingue dos restantes animais e que essa capacidade é ilimitada.
então, imaginem que caem num sono profundo e doce e que os vossos músculos se descontraem, lentamente. e sonham que atravessam um bosque e entram numa cidade estranha mas não completamente estranha. e sonham que são vocês próprios, mas não se conseguem recordar do vosso nome. e falam com pessoas estranhas mas vagamente familiares, como se as conhecessem de um outro tempo que já não conseguem precisar quando ou onde teve lugar.
é um lugar suficientemente aprazível: há um bosque verdejante, um lago com cisnes, uma ponte iluminada forrada a folhas secas com cheiro a terra molhada, as pessoas são simpáticas, há livros mas não há nada dentro deles, há instrumentos musicais mas nenhum acorde vos vem à cabeça.
e agora tentem voltar atrás.
[1] é verdade que aristóteles deu cabo desta teoria do caraças com um simples esclarecimento vocabular: se empregamos o adjectivo divisível e não dividido, não há qualquer obrigatoriedade do pressuposto.
(os gregos já disseram tudo, mas talvez não tenham imaginado tão longe quanto possível.)
partindo do pressuposto que o espaço é contínuo e infinitamente divisível, segundo teoria inicial de zenão de eleia [1] é perfeitamente imaginável uma realidade paralela em que o homem vive num momento eterno.
primeiro, a explicação da continuidade/divisibilidade do binómio espaço-tempo:
qualquer objecto em movimento tem um percurso até alcançar a sua meta, mas antes de lá chegar há que percorrer primeiro metade do caminho, sendo então estabelecida nova meta, a que delimita as duas metades do percurso. a primeira metade é agora um caminho a ser percorrido e também ele tem duas partes, sendo primeiro necessário alcançar o limite da metade desta metade. e assim ad infinitum.
o movimento que constitui o percurso entre estes momentos nunca termina e nunca o objecto atinge realmente a sua meta. esta continuidade é homgeneidade pura, todas as diferenças são eliminadas, e o que resta é o objecto per se.
ora, se isto sucede no plano espacial e todo o movimento fica «congelado», não há progressão temporal e, consequentemente, não há amadurecimento/envelhecimento nem a nível físico nem a nível psicológico.
parece-me, contudo, que, da repetição do momento presente a que o objecto-sujeito está preso, derivará forçosamente um empobrecimento mental: os momentos que se sucediam e se distinguiam, agora fundem-se e a nossa consciência não tem necessidade de registar o mesmo número de fenómenos que registava antes.
segundo, o homem preso na eternidade:
uma das ambições do homem sempre foi a de conseguir uma formula mágica que impedisse ou o envelhecimento ou a morte e a imaginação levou-o a testar tudo, à excepção de si próprio.
sabemos que a criatividade e a capacidade que o homem tem de imaginar é o factor que nos distingue dos restantes animais e que essa capacidade é ilimitada.
então, imaginem que caem num sono profundo e doce e que os vossos músculos se descontraem, lentamente. e sonham que atravessam um bosque e entram numa cidade estranha mas não completamente estranha. e sonham que são vocês próprios, mas não se conseguem recordar do vosso nome. e falam com pessoas estranhas mas vagamente familiares, como se as conhecessem de um outro tempo que já não conseguem precisar quando ou onde teve lugar.
é um lugar suficientemente aprazível: há um bosque verdejante, um lago com cisnes, uma ponte iluminada forrada a folhas secas com cheiro a terra molhada, as pessoas são simpáticas, há livros mas não há nada dentro deles, há instrumentos musicais mas nenhum acorde vos vem à cabeça.
e agora tentem voltar atrás.
[1] é verdade que aristóteles deu cabo desta teoria do caraças com um simples esclarecimento vocabular: se empregamos o adjectivo divisível e não dividido, não há qualquer obrigatoriedade do pressuposto.
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