convidaram-me a satisfazer alguma curiosidade, aqui vai a resposta:
i. gosto de banhos quentes, mesmo muito quentes, em que o vapor envolve o corpo e o calor atordoa a mente
ii. gosto de usar brincos, sem eles sinto-me nua, aliás, nem sequer me sinto eu própria
iii. gosto de criar uma imagem de alguém (real ou não) e ter consciência de que sou eu que estou a criar essa imagem e que a mesma não tem realidade mas é imaginável por mim apenas
iv. leio as mãos, mas nem sempre o faço quando me pedem. é, sobretudo, quando sinto qualquer coisa a impelir-me na direcção de alguém em particular
v. tenho a mania de avaliar a harmonia ou não das roupas das pessoas que se cruzam diante de mim e se seriam mais felizes se se soubessem vestir bem, ou, pelo menos, avaliar o que os seus corpos podem suportar
***** post-scriptum longo e aborrecido *****
esta história da roupa - ainda que vos pareça muito fútil e o seja, mas apenas numa ínfima parte - tem um significado muito particular para mim e porventura, não o terá para muita gente.
a minha mãe é costureira há 30 anos, trabalhou em fábricas de soutiens, com ateliers de noivas, com estilistas sem imaginação e sem dinheiro, com designers de moda inovadores.
eu cresci rodeada de tecidos e de linhas e de máquinas de costura. adormeci frequentemente ao som de uma. aprendi a fazer as roupas para um careca que eu tinha - o único boneco a que tive direito até aos 12 anos, altura em que a minha tia que vive na austrália me ofereceu uma cindy, parente distante da barbie -, usando agulha e linha. criava modelos, iguais aos da minha mãe, alterava as dimensões do molde e ia fazendo alterações sucessivas em termos de corte, consoante me dava na cabeça.
logo, dei por mim a escolher cautelosamente tecidos - cuja qualidade aprendi a reconhecer à distância - para fazer roupas para mim. eu desenhava os modelos, recortava os moldes, cortava o tecido e regra geral - por falta de tempo e porque a máquina de costura industrial da minha mãe é só dela e ninguém lhe mexe - a minha mãe acabava por costurar a peça.
o que visto, sempre foi, para mim, simbólico de um estado de espírito e de uma atitude, que quero ver facilmente reconhecidos à minha passagem, o que vem mesmo a calhar, já que a atenção da maioria das pessoas é retida pelos corpos, pelos movimentos dos corpos e pelo que os cobre.
e, na verdade, quando observo as outras pessoas e o que vestem, não pretendo fazer uma crítica ao tecido ou à peça em si, é uma crítica àquilo que essas pessoas aparentam ser, com as roupas que usam. e porque sei que grande parte não sabe que o que veste afecta psicologicamente as pessoas do seu microcosmos, pergunto-me se elas serão, de facto, felizes e até que ponto se conhecem a si próprias... e se já fizeram tentativas nesse sentido.
i. gosto de banhos quentes, mesmo muito quentes, em que o vapor envolve o corpo e o calor atordoa a mente
ii. gosto de usar brincos, sem eles sinto-me nua, aliás, nem sequer me sinto eu própria
iii. gosto de criar uma imagem de alguém (real ou não) e ter consciência de que sou eu que estou a criar essa imagem e que a mesma não tem realidade mas é imaginável por mim apenas
iv. leio as mãos, mas nem sempre o faço quando me pedem. é, sobretudo, quando sinto qualquer coisa a impelir-me na direcção de alguém em particular
v. tenho a mania de avaliar a harmonia ou não das roupas das pessoas que se cruzam diante de mim e se seriam mais felizes se se soubessem vestir bem, ou, pelo menos, avaliar o que os seus corpos podem suportar
***** post-scriptum longo e aborrecido *****
esta história da roupa - ainda que vos pareça muito fútil e o seja, mas apenas numa ínfima parte - tem um significado muito particular para mim e porventura, não o terá para muita gente.
a minha mãe é costureira há 30 anos, trabalhou em fábricas de soutiens, com ateliers de noivas, com estilistas sem imaginação e sem dinheiro, com designers de moda inovadores.
eu cresci rodeada de tecidos e de linhas e de máquinas de costura. adormeci frequentemente ao som de uma. aprendi a fazer as roupas para um careca que eu tinha - o único boneco a que tive direito até aos 12 anos, altura em que a minha tia que vive na austrália me ofereceu uma cindy, parente distante da barbie -, usando agulha e linha. criava modelos, iguais aos da minha mãe, alterava as dimensões do molde e ia fazendo alterações sucessivas em termos de corte, consoante me dava na cabeça.
logo, dei por mim a escolher cautelosamente tecidos - cuja qualidade aprendi a reconhecer à distância - para fazer roupas para mim. eu desenhava os modelos, recortava os moldes, cortava o tecido e regra geral - por falta de tempo e porque a máquina de costura industrial da minha mãe é só dela e ninguém lhe mexe - a minha mãe acabava por costurar a peça.
o que visto, sempre foi, para mim, simbólico de um estado de espírito e de uma atitude, que quero ver facilmente reconhecidos à minha passagem, o que vem mesmo a calhar, já que a atenção da maioria das pessoas é retida pelos corpos, pelos movimentos dos corpos e pelo que os cobre.
e, na verdade, quando observo as outras pessoas e o que vestem, não pretendo fazer uma crítica ao tecido ou à peça em si, é uma crítica àquilo que essas pessoas aparentam ser, com as roupas que usam. e porque sei que grande parte não sabe que o que veste afecta psicologicamente as pessoas do seu microcosmos, pergunto-me se elas serão, de facto, felizes e até que ponto se conhecem a si próprias... e se já fizeram tentativas nesse sentido.
o post-script a que chamas "longo e aborrecido" parece-me a mim uma das coisas mais belas que já li aqui. somático, precisamente. um quadradinho de imagem que me surge exactamente recortado.
o nome do boneco careca? dizes?
~~m
agora sim, percebo. não perceberia se não o contasses. tenho vindo a caír progressivamente num abismo quando te leio e pensei - Que coerência demonstra ela achando que é fundamental procurar algo tão grandioso por dentro de uma existência carnal sem o conseguir transmitir senão através da expressão de juízos catalogados pela moda ou de opinações sentadas em lugares-comuns? às vezes chateia-me que te metas à superfície em benefício do olho míope do freguês.
e por isso escrevi o que escrevi.
não sou nenhum exemplo a seguir, mas acredita que fiquei muito satisfeita com a tua resposta. ainda bem que materializei o meu aborrecimento com a coisa.
Há um talento escondido, de linhas e tecidos. Uma estilista à espera de se revelar? Gostei de ler como observas os movimentos dos tecidos.
E, como se não bastasse, ainda lês as mãos. :) Para quando a leitura das minhas? Só se quiseres, claro. :)
o careca chamava-se careca, claro. só anos mais tarde me dei conta de que ele podia ter nomes como ludovico, rafael ou mimi.
diz ...