astor piazzolla: hora cero
(tentativa de tradução simultânea)
despe-te até ficares em cuecas
se não estiveres de fato e gravata.
sê obsceno se quiseres, mas nunca casual.
sentes uma vontade?
toca-lhe a dor, embrulha-te nela.
não te dês ares.
o que pareces deve ser o que és, e o que tu és é confusão,
rapaz, mas não faz mal, desde que a uses dentro de ti.
sê perspicaz.
não sejas um relaxado.
vês alguém relaxado por aqui?
mantêm-te em controlo de ti próprio, tenso, determinado.
escuta os teus nervos.
é a hora zero.
a ansiedade ganha terreno, vaga após vaga,
com cada aperto do bandoneón,
já torcido pelo contrário de ti.
o tempo escorre para trás e para a frente
em direcção ao vortex.
dos quartos vem um ar quente e uma melodia engasgada
de arfares sincopados.
algo palpita.
uma veia debaixo da tua pele.
está dentro de ti agora,
o virus bordello,
este prazer que sabe tanto a raiva e a desgosto.
quando encontrares lagos de pura luz adocicada,
banha-te nas suas águas, cuida das tuas feridas.
por causa das cicatrizes causadas pelos respingos
da poça dos desejos,
o bandoneón está a ir-se embora na tua alma.
se isto fosse a milonga das favelas,
ou essas canções populares
que falam de caras pintadas e de amores roubados,
podias deixar a distância esboçar um sorriso nos teus lábios.
ironia barata.
não te escapas assim tão facilmente.
esta música é para ti.
sempre te teve em mente, os teus hábitos, as tuas manias,
as pequenas correntezas de sangue rebentando dentro de ti
quando escondes o que sentes.
vá, caminha pelo salão, traz a tua amiga ou vem sozinho.
vem ouvir o mestre enquanto ele desata o vento dentro da caixa,
enquanto ele aperta o tigre que rosna ameaçando abraçá-lo e
transforma a besta num gatinho ronronante.
e tigre novamente.
e gatinho.
tudo é um jogo.
também o vais jogar, vais dançar com o tigre.
não te preocupes, a tua vida está em perigo.
lembra-te das tuas instruções.
escuta.
e sofre, filho da mãe, isto é o tango.
(tentativa de tradução simultânea)
despe-te até ficares em cuecas
se não estiveres de fato e gravata.
sê obsceno se quiseres, mas nunca casual.
sentes uma vontade?
toca-lhe a dor, embrulha-te nela.
não te dês ares.
o que pareces deve ser o que és, e o que tu és é confusão,
rapaz, mas não faz mal, desde que a uses dentro de ti.
sê perspicaz.
não sejas um relaxado.
vês alguém relaxado por aqui?
mantêm-te em controlo de ti próprio, tenso, determinado.
escuta os teus nervos.
é a hora zero.
a ansiedade ganha terreno, vaga após vaga,
com cada aperto do bandoneón,
já torcido pelo contrário de ti.
o tempo escorre para trás e para a frente
em direcção ao vortex.
dos quartos vem um ar quente e uma melodia engasgada
de arfares sincopados.
algo palpita.
uma veia debaixo da tua pele.
está dentro de ti agora,
o virus bordello,
este prazer que sabe tanto a raiva e a desgosto.
quando encontrares lagos de pura luz adocicada,
banha-te nas suas águas, cuida das tuas feridas.
por causa das cicatrizes causadas pelos respingos
da poça dos desejos,
o bandoneón está a ir-se embora na tua alma.
se isto fosse a milonga das favelas,
ou essas canções populares
que falam de caras pintadas e de amores roubados,
podias deixar a distância esboçar um sorriso nos teus lábios.
ironia barata.
não te escapas assim tão facilmente.
esta música é para ti.
sempre te teve em mente, os teus hábitos, as tuas manias,
as pequenas correntezas de sangue rebentando dentro de ti
quando escondes o que sentes.
vá, caminha pelo salão, traz a tua amiga ou vem sozinho.
vem ouvir o mestre enquanto ele desata o vento dentro da caixa,
enquanto ele aperta o tigre que rosna ameaçando abraçá-lo e
transforma a besta num gatinho ronronante.
e tigre novamente.
e gatinho.
tudo é um jogo.
também o vais jogar, vais dançar com o tigre.
não te preocupes, a tua vida está em perigo.
lembra-te das tuas instruções.
escuta.
e sofre, filho da mãe, isto é o tango.
diz ...