voi ch'ascoltate: sono scenduta [vi]
não sabia como evitar-lhe a pele. a luz da pele dela irritava-o mas não deixava de a olhar. a sombra entre as pernas chamava as suas mãos atadas. e então ela pousou a faca. lentamente. com sobriedade. deu dois passos em frente. e a sombra insistia em agastá-lo. sentia-se tremer de ansiedade. as pontas dos dedos pareciam possuídos por uma febre estranha e tentavam a todo o custo libertar-se da prisão.
- repara que não te toco.
- mas eu quero tocar-te...
- porquê? não te meto nojo? eu atei-te e tu queres-me?
- estás a provocar-me...
um sorriso aberto e deslumbrante rasgou-lhe os lábios. ela recuou alguns passos e o cão reapareceu. parou aos pés dela, ganiu e lambeu-lhe uma coxa alva.
- querias fazer-me o mesmo?
o cão prosseguia a sua exploração. a língua rosa áspera desaparecia entre pêlos muito escuros. obedecia a ordens não pronunciadas de outros dias. a luz tremeluzia no lombo negro do animal.
- por favor, fá-lo parar...
ela tocou levemente o focinho do cão e este correu para fora da cozinha.
- lembra-te que este é um sonho teu, tomás. só teu.
agarrou na cenoura esquecida sobre a mesa e, sem mais, introduziu-a no espaço deixado livre pelo músculo canino.
- não faças isso...
- vem cá. impede-me.
ele ergueu-se para logo se ajoelhar diante dela. com os dentes, arrancou-lhe a cenoura dos dedos surpreendentemente frágeis e deixou-a cair, com um ruído seco. escutavam a música que emanava dos seus fôlegos irrecuperáveis e quebradiços. à espera de um passo.
e ele soube quem era no momento em que enterrou o rosto na sombra que o chamava estava ele ainda na escuridão.
fim
não sabia como evitar-lhe a pele. a luz da pele dela irritava-o mas não deixava de a olhar. a sombra entre as pernas chamava as suas mãos atadas. e então ela pousou a faca. lentamente. com sobriedade. deu dois passos em frente. e a sombra insistia em agastá-lo. sentia-se tremer de ansiedade. as pontas dos dedos pareciam possuídos por uma febre estranha e tentavam a todo o custo libertar-se da prisão.
- repara que não te toco.
- mas eu quero tocar-te...
- porquê? não te meto nojo? eu atei-te e tu queres-me?
- estás a provocar-me...
um sorriso aberto e deslumbrante rasgou-lhe os lábios. ela recuou alguns passos e o cão reapareceu. parou aos pés dela, ganiu e lambeu-lhe uma coxa alva.
- querias fazer-me o mesmo?
o cão prosseguia a sua exploração. a língua rosa áspera desaparecia entre pêlos muito escuros. obedecia a ordens não pronunciadas de outros dias. a luz tremeluzia no lombo negro do animal.
- por favor, fá-lo parar...
ela tocou levemente o focinho do cão e este correu para fora da cozinha.
- lembra-te que este é um sonho teu, tomás. só teu.
agarrou na cenoura esquecida sobre a mesa e, sem mais, introduziu-a no espaço deixado livre pelo músculo canino.
- não faças isso...
- vem cá. impede-me.
ele ergueu-se para logo se ajoelhar diante dela. com os dentes, arrancou-lhe a cenoura dos dedos surpreendentemente frágeis e deixou-a cair, com um ruído seco. escutavam a música que emanava dos seus fôlegos irrecuperáveis e quebradiços. à espera de um passo.
e ele soube quem era no momento em que enterrou o rosto na sombra que o chamava estava ele ainda na escuridão.
fim
Gostaria de te endereçar as felicitações pelo teu blog. Está repleto de manifestações da mais vítrea beleza.
diz ...