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outubro 05, 2004

reescrita vii

fazia bastante vento àquela hora da tarde, no alto da falésia, mas ela parecia nem sentir o cabelo a emaranhar-se-lhe.
- dizes-me que o amaste mais que qualquer outra pessoa. fisicamente?
- a princípio. ele queria ser meu amante, toda a vida o quis. magoei-o tremendamente quando me apaixonei. ele não entendia como eu podia amar dois homens com igual intensidade mas de modos diferentes, com expressões diferentes.
- ele tentou matar-te?
- não. disse-me que não queria assistir à minha traição, que preferia morrer, que preferia que eu o matasse, a sofrer tanto. e ele sabia que se mo pedisse, eu fa-lo-ia.
- complexo de antígona.
- não, não comeces a citar as teorias de freud, de contrário deixo-te a falar sozinho. diz-me o que tu pensas disto, de mim, do meu crime.
- quando o mataste, sentiste prazer?
- sim. por muito terrível que isto possa soar, amei-o enquanto morria. pareceu-me tão belo que... e eu conhecia-o melhor que ninguém, sabia o que ele estava a sentir, percebia o que ele queria dizer... naquele momento, quis morrer com ele. pedir-lhe que me matasse. quando o beijei pela última vez, quis matar-me. antígona não matou polinices, não foi amante dele.
- mas pode ter desejado sê-lo.
- muito provavelmente. todas as mulheres amam os seus irmãos com uma incestuosidade latente. admiti-lo ou não dependerá do grau de auto-consciência e de auto-estima delas próprias. – uma pausa preludiou o que eu já sabia que ser-me-ia pedido. – define-me, então, de uma vez por todas. estou farta desta conversa.


sinto dentro de mim, danças a morrer, sonhas a morrer, teu suor é já fétido, teus lábios branqueiam com as ondas valquíricas que te vêm buscar. o vento que sussurra na minha garganta, na minha pele esticada, é o teu sopro tíbio.

- queres fazer sofrer porque crês suavizar a tua culpa. amas porque pensas que odeias. e buscas a morte porque acreditas que já estás morta.
encarámos o horizonte durante largos minutos, ouvintes daquele vento agora adocicado.
- faz de mim o que quiseres. mata-me. – o olhar dela, suplicante, deixou-me abismado. - uma inocência nunca antes vista perpassava no tremor das pálpebras e no revirar nervoso dos lábios. – este mundo não me serve, não caibo nele.
- como é que podes dizer-me semelhante coisa? tu és o que fazes. tens de acreditar que assim é.
- acabas com a minha vida ou eu acabo com a tua?
- eu não sou um assassino.
- e eu não faço batota.
sem gritar, ela lançou-se da falésia, carregada pelo vento amante quente de outrora.

fim