conhecemo-nos quando tinhamos 7 anos. andámos juntos na escola, com a professora elisabete a dar-nos - mais a ele que a mim - com uma régua nas palmas das mãos cada vez que falhávamos na cantoria da tabuada (nunca cheguei a perceber aquela história dos "noves fora" e hoje em dia adoro matemática).
um dia, uma miúda irritante copiou do meu teste e a professora elisabete colocou-me a mim naquele cubículo onde guardavam as vassouras e as caixas com pauzinhos de giz. apagada a luz, desatei a gritar. um grito ininterrupto. gritei até ficar rouca, e mesmo sem me escutarem, continuava a gritar. lembro-me de sentir tudo girar à minha volta.
e de repente, a porta abriu-se. o luís tinha-a aberto. a professora estava histérica porque um miúdo a desafiava. eu estava aterrorizada. mas o luís deu-me a mão e saímos da sala de aula em silêncio.
quando morreu o meu Babo, corri até à casa dele e passámos a noite acordados e a fumar os nossos primeiros cigarros em cima do telhado da garagem do pai dele. para me animar, ele inventou histórias sobre as estrelas e o que estava para além delas.
em 1996, ele foi para a bósnia-herzegovina. queria ajudar. ficou em gorazde durante uns meses e depois mandou-me um mail a dizer que estava integrado numa missão da osce num projecto que pretendia controlar o tráfico de fármacos. ia continuar por lá, desta feita em sarajevo, durante pelo menos um ano. mantivemos um contacto mais regular. foi mais ou menos por essa altura que me apaixonei pela primeira vez e escrevia-lhe a contar coisas que só ele e eu vamos saber.
voltei a vê-lo em 1998 quando regressou a portugal: tão bonito e destemido quanto eu sempre soubera que ele seria.
ia dar umas voltas pelo mundo e depois assentaria arraiais quando estivesse mais cansado.
hoje, o luís faz 27 anos e está no alaska, em kenai, uma cidade perto de anchorage. está a trabalhar num restaurante com motel, junto a uma estrada que serve de ponto de passagem a algumas dezenas de pescadores de caranguejo nesta altura do ano. antes, movido pela oportunidade de ganhar muito dinheiro em pouco tempo, trabalhou precisamente na apanha do caranguejo, mas percebeu que podia morrer a qualquer altura pelo mais estúpido dos erros.
no restaurante, diz-me ele, tem a oportunidade de observar pessoas que por lá passam, algumas todos os dias, outras uma única vez antes de se aventurarem e que essas pessoas não iguais às restantes que conhecemos: são pessoas fortes, bem-humoradas, com um instinto acerca do que é certo e errado que nos faz duvidar de nós próprios.
parabéns, miúdo! tenho saudades tuas. beijo da tua princesa.
um dia, uma miúda irritante copiou do meu teste e a professora elisabete colocou-me a mim naquele cubículo onde guardavam as vassouras e as caixas com pauzinhos de giz. apagada a luz, desatei a gritar. um grito ininterrupto. gritei até ficar rouca, e mesmo sem me escutarem, continuava a gritar. lembro-me de sentir tudo girar à minha volta.
e de repente, a porta abriu-se. o luís tinha-a aberto. a professora estava histérica porque um miúdo a desafiava. eu estava aterrorizada. mas o luís deu-me a mão e saímos da sala de aula em silêncio.
quando morreu o meu Babo, corri até à casa dele e passámos a noite acordados e a fumar os nossos primeiros cigarros em cima do telhado da garagem do pai dele. para me animar, ele inventou histórias sobre as estrelas e o que estava para além delas.
em 1996, ele foi para a bósnia-herzegovina. queria ajudar. ficou em gorazde durante uns meses e depois mandou-me um mail a dizer que estava integrado numa missão da osce num projecto que pretendia controlar o tráfico de fármacos. ia continuar por lá, desta feita em sarajevo, durante pelo menos um ano. mantivemos um contacto mais regular. foi mais ou menos por essa altura que me apaixonei pela primeira vez e escrevia-lhe a contar coisas que só ele e eu vamos saber.
voltei a vê-lo em 1998 quando regressou a portugal: tão bonito e destemido quanto eu sempre soubera que ele seria.
ia dar umas voltas pelo mundo e depois assentaria arraiais quando estivesse mais cansado.
hoje, o luís faz 27 anos e está no alaska, em kenai, uma cidade perto de anchorage. está a trabalhar num restaurante com motel, junto a uma estrada que serve de ponto de passagem a algumas dezenas de pescadores de caranguejo nesta altura do ano. antes, movido pela oportunidade de ganhar muito dinheiro em pouco tempo, trabalhou precisamente na apanha do caranguejo, mas percebeu que podia morrer a qualquer altura pelo mais estúpido dos erros.
no restaurante, diz-me ele, tem a oportunidade de observar pessoas que por lá passam, algumas todos os dias, outras uma única vez antes de se aventurarem e que essas pessoas não iguais às restantes que conhecemos: são pessoas fortes, bem-humoradas, com um instinto acerca do que é certo e errado que nos faz duvidar de nós próprios.
parabéns, miúdo! tenho saudades tuas. beijo da tua princesa.
diz ...