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julho 20, 2004

De repente, encontrei-me diante da minha mãe; ela desembaraçara-se de todas as restrições, arrancara a máscara e olhava obliquamente como se, com o sorriso oblíquo, se tivesse libertado do peso que a matava.
E disse:
- Não me reconheceste. Não conseguiste reconhecer-me.
- Reconheci-te. - disse-lhe eu. - Agora, repousas nos meus braços. Quando chegar o meu último suspiro não estarei mais cansado do que agora.
- Beija-me - disse-me ela -, para não pensares mais. Mete a tua boca na minha. Agora, sê feliz já, como se eu não estivesse arruinada, como se não estivesse destruída. Quero fazer-te entrar nesse mundo de morte e de corrupção, onde já sabes que estou prisioneira: eu sabia que gostarias dele. Gostava que, agora, delirasses comigo. Queria arrastar-te na minha morte. Um breve instante de delírio que eu te der, não vale o universo de estupidez onde eles têm frio? Quero morrer, «apaguei os meus traços». A tua corrupção era obra minha: dava-te o que de mais puro e violento eu tinha, o desejo de só amar o que me rasga as vestes. Estas são as últimas.
Minha mãe despiu, diante de mim, a camisa e o calção. Deitou-se nua.
Eu estava nu e estendi-me a seu lado.
- Sei agora - disse ela -, que tu me vais sobreviver e que, sobrevivendo-me, vais atraiçoar uma mãe abominável. Mas se, mais tarde, te lembrares do enlace que te vai em breve unir a mim, não esqueças a razão pela qual eu me deitava com mulheres. Não é altura de falar do farrapo do teu pai: seria um homem? Sabes bem, eu gostava de rir, e talvez ainda goste. Jamais saberás, até ao derradeiro instante, se eu me ria de ti... Não te deixei responder. Saberei, ainda, se tenho medo, ou se te amo demasiadamente? Deixa-me oscilar contigo nesta alegria que é a certeza de um abismo mais total, mais violento que todos os desejos. A volúpia em que te afundas é já tamanha, que eu posso falar-te: a ela vai seguir-se a tua derrocada. Nessa altura, eu partirei, e não voltarás jamais a ver aquela que te esperou, para só te dar o seu último suspiro. Ah! cerra os dentes, meu filho! Pareces-te com o teu caralho, esse caralho a escorrer raiva, que o meu desejo, como um punho, crispa.

Georges Bataille, "Minha Mãe" in História do Olho & Minha Mãe (Lx, Livros do Brasil, 1988)