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junho 24, 2004

Ele pensa que as minhas tatuagens são obra de um mestre. Têm pormenores que os seus olhos jamais irão descobrir, cores que ele nem sabia que existiam (...).
E pela primeira vez afago-lhe o rosto e deito por terra o vestido de linho, para ele poder ver outra vez os pés de uma contorcionista (arqueiam o corpo como chinelos turcos), as barrigas bojudas das pernas de um trapezista, as minhas tíbias afiadas como sabres de Damasco e os joelhos redondos de mulher que não ajoelha perante ninguém. Mas ele ignora tudo isso e prefere assentar o olhar na sombra que eu tenho entre as pernas. Aí descobre a inscrição (...).
- O que é que isto quer dizer, Cassandra?
- Não te ensinam nada na escola?
- Não há escola cá na aldeia, Cassandra.
- Quer dizer «Remédio para o desgosto», meu menino.
Ele não percebe.
- Conta-me mais, Cassandra.
- Mais quê?
- Conta-me mais histórias.
Eu rio-me, e ele diz que a minha gargalhada é como o rumor do rio.

Panos Karnezis, Pequenas grandes infâmias
(lx, cavalo de ferro, 2004)