Ele pensa que as minhas tatuagens são obra de um mestre. Têm pormenores que os seus olhos jamais irão descobrir, cores que ele nem sabia que existiam (...).
E pela primeira vez afago-lhe o rosto e deito por terra o vestido de linho, para ele poder ver outra vez os pés de uma contorcionista (arqueiam o corpo como chinelos turcos), as barrigas bojudas das pernas de um trapezista, as minhas tíbias afiadas como sabres de Damasco e os joelhos redondos de mulher que não ajoelha perante ninguém. Mas ele ignora tudo isso e prefere assentar o olhar na sombra que eu tenho entre as pernas. Aí descobre a inscrição (...).
- O que é que isto quer dizer, Cassandra?
- Não te ensinam nada na escola?
- Não há escola cá na aldeia, Cassandra.
- Quer dizer «Remédio para o desgosto», meu menino.
Ele não percebe.
- Conta-me mais, Cassandra.
- Mais quê?
- Conta-me mais histórias.
Eu rio-me, e ele diz que a minha gargalhada é como o rumor do rio.
Panos Karnezis, Pequenas grandes infâmias
(lx, cavalo de ferro, 2004)
E pela primeira vez afago-lhe o rosto e deito por terra o vestido de linho, para ele poder ver outra vez os pés de uma contorcionista (arqueiam o corpo como chinelos turcos), as barrigas bojudas das pernas de um trapezista, as minhas tíbias afiadas como sabres de Damasco e os joelhos redondos de mulher que não ajoelha perante ninguém. Mas ele ignora tudo isso e prefere assentar o olhar na sombra que eu tenho entre as pernas. Aí descobre a inscrição (...).
- O que é que isto quer dizer, Cassandra?
- Não te ensinam nada na escola?
- Não há escola cá na aldeia, Cassandra.
- Quer dizer «Remédio para o desgosto», meu menino.
Ele não percebe.
- Conta-me mais, Cassandra.
- Mais quê?
- Conta-me mais histórias.
Eu rio-me, e ele diz que a minha gargalhada é como o rumor do rio.
Panos Karnezis, Pequenas grandes infâmias
(lx, cavalo de ferro, 2004)
diz ...