voi ch'ascoltate: sono arrivata [iii]
uma luz de que só naquele instante ele se dera conta apagou-se. num lugar impreciso. sentiu-se próximo da morte, de uma espécie de morte, mas não saberia dizer porquê.
percebeu que o cão saltava e desaparecia no escuro para lá da cozinha. a mulher regressava, trazendo nas mãos uma corda que pousou sobre a mesa.
ela olhou-o sem artifícios, como se de um exame clínico se tratasse: a pele, o nervoso dos tiques crispados pela incerteza, o tronco magro e as pernas arqueadas. fixou o olhar naquele ponto que as mãos dele teimavam em esconder.
- tira as mãos daí. - o tom não admitia nada para além do cumprimento da ordem.
o silêncio que se seguiu, pareceu-lhe a ele carregado como o de uma madrugada grávida de chuva. quis esconder-se. todo o seu corpo tremia, como se lhe tivesse dado uma carga de porrada com uma pá.
- não gostas que te olhe?
- não... não é o teu olhar... é esta situação...
- que situação?
- precisamente! não sei onde estou, quem és tu, se eu ainda sou eu... se estou vivo!
- estás vivo, sim.
e como quisesse dar-lhe uma prova disso mesmo, tirou o vestido de cor indefinida pela cabeça.
- toca-me.
ele sentiu uma comichão estranha. não se lembrava de alguma vez ter sentido algo parecido, parecia que um bicho diminuto o comia por dentro, algures no baixo ventre. arriscou olhar para aquele músculo que agora acordava.
- vês? estás vivo. está vivo...
uma luz de que só naquele instante ele se dera conta apagou-se. num lugar impreciso. sentiu-se próximo da morte, de uma espécie de morte, mas não saberia dizer porquê.
percebeu que o cão saltava e desaparecia no escuro para lá da cozinha. a mulher regressava, trazendo nas mãos uma corda que pousou sobre a mesa.
ela olhou-o sem artifícios, como se de um exame clínico se tratasse: a pele, o nervoso dos tiques crispados pela incerteza, o tronco magro e as pernas arqueadas. fixou o olhar naquele ponto que as mãos dele teimavam em esconder.
- tira as mãos daí. - o tom não admitia nada para além do cumprimento da ordem.
o silêncio que se seguiu, pareceu-lhe a ele carregado como o de uma madrugada grávida de chuva. quis esconder-se. todo o seu corpo tremia, como se lhe tivesse dado uma carga de porrada com uma pá.
- não gostas que te olhe?
- não... não é o teu olhar... é esta situação...
- que situação?
- precisamente! não sei onde estou, quem és tu, se eu ainda sou eu... se estou vivo!
- estás vivo, sim.
e como quisesse dar-lhe uma prova disso mesmo, tirou o vestido de cor indefinida pela cabeça.
- toca-me.
ele sentiu uma comichão estranha. não se lembrava de alguma vez ter sentido algo parecido, parecia que um bicho diminuto o comia por dentro, algures no baixo ventre. arriscou olhar para aquele músculo que agora acordava.
- vês? estás vivo. está vivo...
diz ...