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maio 31, 2004

segundo picasso, a pintura tem duas aporias: o sol e o sexo masculino.
a nudez do corpo masculino é sempre mais socialmente perturbadora porque expõe a humanidade. o corpo perde-se, suspenso, retraído, é tão somente orgão, membro. uma presença singular.
não há como retratar honestamente o nu masculino sem um ruído de fundo, uma dissonância que o torna pornográfico.
o momento chegará em que a um acto violento será necessário reagir de forma proporcionalmente violenta. são curiosos os efeitos miméticos da violência: quanto mais os homens tentam controlá-la, mais a alimentam. e a violência mais temida é a provocada pelos nossos semelhantes.

diz rené girard que "la violence constitue le coeur véritable et l'âme secrète du sacré". vou pensar nisso.
Blogger JPN disse...

também eu

12/12/04 15:24  

diz ...

o dharma, a lei eterna do mundo que fundamenta e ordena todo e qualquer acontecimento, manifesta-se na exacta medida da acção humana.

andei a reler o mito de sísifo de camus (sigo para sartre daqui a dias): a experiência do absurdo é, em última análise, a brutal tomada de consciência daquele abismo permanentemente presente entre o Eu e o Mundo, entre a aspiração humana à harmonia e a sociedade que insiste em negar essa possibilidade. resulta daqui a recusa de atribuir um sentido à existência humana, levando o homem a procurar um microcosmos à sua medida, não aspirando a nada mais para além do que esse mundo lhe oferece.
resta um só nada que nem o absurdo nem o homem condenado pode negar: a vida.

maio 30, 2004

astor piazzolla: hora cero

(tentativa de tradução simultânea)

despe-te até ficares em cuecas
se não estiveres de fato e gravata.
sê obsceno se quiseres, mas nunca casual.
sentes uma vontade?
toca-lhe a dor, embrulha-te nela.
não te dês ares.
o que pareces deve ser o que és, e o que tu és é confusão,
rapaz, mas não faz mal, desde que a uses dentro de ti.
sê perspicaz.
não sejas um relaxado.
vês alguém relaxado por aqui?
mantêm-te em controlo de ti próprio, tenso, determinado.
escuta os teus nervos.
é a hora zero.
a ansiedade ganha terreno, vaga após vaga,
com cada aperto do bandoneón,
já torcido pelo contrário de ti.
o tempo escorre para trás e para a frente
em direcção ao vortex.
dos quartos vem um ar quente e uma melodia engasgada
de arfares sincopados.
algo palpita.
uma veia debaixo da tua pele.
está dentro de ti agora,
o virus bordello,
este prazer que sabe tanto a raiva e a desgosto.
quando encontrares lagos de pura luz adocicada,
banha-te nas suas águas, cuida das tuas feridas.
por causa das cicatrizes causadas pelos respingos
da poça dos desejos,
o bandoneón está a ir-se embora na tua alma.
se isto fosse a milonga das favelas,
ou essas canções populares
que falam de caras pintadas e de amores roubados,
podias deixar a distância esboçar um sorriso nos teus lábios.
ironia barata.
não te escapas assim tão facilmente.
esta música é para ti.
sempre te teve em mente, os teus hábitos, as tuas manias,
as pequenas correntezas de sangue rebentando dentro de ti
quando escondes o que sentes.
vá, caminha pelo salão, traz a tua amiga ou vem sozinho.
vem ouvir o mestre enquanto ele desata o vento dentro da caixa,
enquanto ele aperta o tigre que rosna ameaçando abraçá-lo e
transforma a besta num gatinho ronronante.
e tigre novamente.
e gatinho.
tudo é um jogo.
também o vais jogar, vais dançar com o tigre.
não te preocupes, a tua vida está em perigo.
lembra-te das tuas instruções.
escuta.
e sofre, filho da mãe, isto é o tango.
isto é muito estranho.
estarei realmente apaixonada?

(sim, estou a racionalizar de novo, mas é um hábito que tenho desde os 13 anos. vai ser difícil acabar com ele, mas está nos meus planos.)

pela primeira vez na vida, não usei um homem.
passo a explicar porque isto, dito assim, out of the blue, soa a algo grave.
depois de muitos anos a desprezar o sexo masculino pelos seus limites interpretativos (a qualquer nível) e, simultaneamente, a imitar-lhes o comportamento sexual agressivo, não sei como, deixei-me ir.

não lhe disse adeus com secura, não me certifiquei dos sítios onde ele pára para não pôr lá os pés, nem sequer fui arrogantemente superior em nenhum dos meus comentários. pelo contrário: este homem deixa-me sem palavras.
e a nossa despedida foi doce, como se naquele momento, os nossos corpos ansiassem já pelo regresso um ao outro.
agora, vemo-nos de vez em quando, e sabemos quão bons podemos ser um para o outro, mas roçamo-nos com o olhar e sorrimos como velhos amigos.
e isso, esse olhar ridente apenas, satisfaz-me muito, muito mais, do que todos aqueles idiotas do passado.

acho que não estou apaixonada: não quero prendê-lo, não quero amedrontá-lo, não lhe faço perguntas e conto-lhe o que ele quiser saber, não crio expectativas, não lhe peço nada.
Blogger JPN disse...

parece que somos só de uma maneira e de repente...

12/12/04 15:21  

diz ...

maio 29, 2004

eu gosto da mulher em que me tornei.
a minha infância foi um pesadelo, mas são aqueles raros mas belíssimos momentos de luz e doçura dessa infância que estão à flor da minha memória.

3 anos: uma tarde muito quente e silenciosa de verão - eu
deveria estar a dormir uma sesta na cama dos meus pais, mas o meu olhar ficara preso naqueles feixes de luz esbranquiçada que carregavam minúsculas partículas de pó acumulado nas cortinas de sarja pesada. ainda me lembro da cor: castanho, um castanho cor de chocolate de leite.

5 anos: com um cesto de vime debaixo do braço, ia colhendo, ao longo de um riacho, amoras que, antes de chegarem ao fundo do cesto, faziam um desvio irreparável pela minha boca. de regresso a casa, contei 6 amoras. dei-as à minha mãe, juntamente com um ramo de florzitas liláses, vermelhas, amarelas e brancas.

6 anos: mascarada de fada, eu acreditava que o era. e por isso, eu e a minha varinha mágica, às cavalitas nos ombros do meu pai, andámos a fazer magia para todos aqueles senhores e senhoras e meninos e meninas que estavam num clube chamado botafogo, em caneças, em 1984.

14 anos: a dançar ao som de algo nunca antes ouvido e vagamente exótico, o meu corpo parecia outro. era como se tivesse encontrado a dança da sua vida. e ainda hoje, a música cigana me transforma.

aprendi com tudo o que aconteceu na minha vida, bom e mau; de todos quantos tiveram alguma intervenção no meu percurso, tomei referência para futura ponderação.
e tenho estado a fazer o melhor que consigo não para ser feliz (um objectivo dificilmente concretizável, porque o mundo está cheio de distracções que, à primeira vista, podemos admirar como fonte de felicidade e que nos podem desviar de um qualquer percurso) mas para nunca me perder de vista, nunca esquecer quem fui e quem sou agora, do que sou capaz neste momento, estar sempre consciente das consequências das minhas acções, e sobretudo, ser honesta comigo própria.

é um mundo de diferença quando começamos a olhar-nos sem espelhos, sem máscaras. só pelo toque cego.
Blogger JPN disse...

impressionas-me pela tua honestidade.

12/12/04 15:18  

diz ...

às vezes, não sei como, as palavras saem trocadas, quase inversamente opostas àquelas que eu pretendo dizer. e, ultimamente, vejo-me perdida naquela fissura temporal entre o pensamento primeiro e elocução do mesmo, e nem sequer me lembro como se fala.
é o meu pensamento, conheço-me bem o suficiente para reconhecer a minha individualidade; sei os actuais limites dos meus conhecimentos - que, aliás, estou constantemente a redefinir; mas a verdade é que as palavras que digo parecem guinchar, trôpegas, por entre os dentes. e reconheço algum temor perante a não-elaboração do discurso de todo o dia de todo o ser humano de hoje, porque o meu discurso não quer ser um desses; no entanto - e daqui provém o meu receio - não tardará muito para que ninguém com menos de 30 anos perceba aquilo que digo.
ou tento dizer.
Blogger JPN disse...

foi a primeira vez que aqui vim, estou a ler de trás para a frente o teu blogue, paro aqui para te dizer que estou a ficar deslumbrado com a força do que escreves...

12/12/04 15:11  

diz ...

maio 27, 2004

se tiverem oportunidade, deitem as mãos a uma bd intitulada a vida numa colher: beterraba de miguel rocha, editada pela polvo.
um dia destes começo a contar-vos a minha história (que não dava um livro, nem um filme, mas podia muito bem ser uma música de tom waits).

a propósito, coffee & cigarettes, de jim jarmusch estreia dia 3 de junho com tom waits como protagonista.
depois de a wild sheep chase, the elephant vanishes, south of the border west of the sun, chega a vez de norwegian wood.

cortázar é muito bom, mas murakami chega a ser viciante.
concerti con violini, viola da gamba, violoncello e molti istrumenti.
vivaldi.

tenho tudo apertado dentro de mim.

já volto...

maio 24, 2004

De facto, o Prazer só é suportável no paroxismo. Momento em que já nada pode chocar. Tudo corre ao sabor da emoção. Mesmo que seja inconfessável, cada gesto tem a sua explicação e, num lado qualquer, a desculpa.

Marcel Jouhandeau, Tirésias (lx, hiena, 1994)

maio 18, 2004

não tenho paciência para mal-humorados!
vivemos num cantinho privilegiado da europa junto ao mar; somos um dos 5 países no hemisfério norte que podem disfrutar, em média, de 248 dias de sol; somos um povo aberto e franco.
foda-se, há alguma coisa de que possam realmente ter queixa??!

das dificuldades de coordenação dos diferentes vectores da vossa vida, trabalho-família-lazer-prazer?
da vida, portanto. acordem, todos passamos pelo mesmo, desde os elefantes aos aligators.

meus caros, somos animais.
a vida não nos foi dada por deus e só temos de aprender a sobreviver. estar aqui não nos garante nada.
por isso, tirar prazer de tudo quando fazemos, dizemos e pensamos é a derradeira experiência humana.

maio 14, 2004

como se eu fosse única, tocaste-me o seio.
pela primeira vez na minha vida, depois de duelos imprevisíveis e cicatrizes demasiado vistas, o meu corpo tremeu, vivo como nunca o soubera capaz.
a tua respiração na minha nuca, uma mão entre pregas outra entre montes. já aprendi o teu cheiro e agora quero saber que sabor tem tua pele.

temos tempo, disseste, a tua mão e a minha nela, trémulas.

nunca conheci ninguém como tu, sabes? e se me vais dizer que ando com os homens errados, acredita que eu bem sei.

temos tempo. nunca conheci um homem que acreditasse nisso.
e tu e eu sabemos que não há tanto tempo assim.

maio 13, 2004

Deves saber em primeiro lugar que cada coisa, tendo uma face manifesta, possui também uma oculta (...). É tempo de, em cada coisa que conheces, a tua loucura saber descobrir o reverso.

Georges Bataille, O Aleluia (lx, 4 elementos editores, 1987)

maio 12, 2004

Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.

Herberto Helder, Poesia Toda (lx, plátano, 1973, 1º vol., p. 28)

hoje sinto-me tão mulher e tão satisfeita que hh teve de ser convocado.
melhor que a perspectiva de sexo fabuloso é a concretização do mesmo, intensidade inventada.
the piano has been drinking
my neck tie is asleep
and the combo went back to new york
the jukebox has to take a leak
and the carpet needs a haircut
and the spot light looks like a prison break
cause the telephone is out of cigarrettes
and the balcony's on the make
and the piano has been drinking...
...not me

tom waits: small change (1976)
ando a ler haruki murakami.
para quem quiser aventurar-se, pode começar por a wild sheep chase (vintage).

maio 06, 2004

não sonhei.
o teu sorriso desapareceu e os teus olhos escureceram quando me viste nua.
enquanto me viste nua.
não sonhei?

maio 01, 2004

Não é necessário saíres de casa.
Senta-te à mesa e fica à escuta.
Não escutes sequer, espera.
Ou nem sequer esperes, fica só quieto e só.
O mundo oferecer-se-à para que o desmascares e, arrebatado, contorcer-se-à perante ti.

franz kafka, considerações sobre o pecado, o sofrimento, a esperança e o verdadeiro caminho (lx, hiena, 1994)